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Olá! Somos a Cris, o Henrique e a Helena, apaixonados pela natureza e pelas coisas simples da vida. Gostamos de viajar, cozinhar, fotografar e compartilhar nossos momentos em família.

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Tem um ditado que diz "as montanhas estão chamando e eu preciso ir". Pra muitos, esse ditado é apenas mais uma frase pinterestiana pra combinar com as paisagens que servem de fundo pra ela. Mas pra alguns privilegiados predispostos a ouvir, o chamado vem e é impossível ignorar. As montanhas nos chamam, nos atraem e nos hipnotizam de forma que nada, nada além delas nos chama atenção, nos faz desviar o olhar. Você sente no seu corpo, no seu coração.. um arrepio, um suspiro, uma batida irregular. Um misto de medo e fascinação diante de tanta beleza e imponência. Você se sente pequeno e repensa seu lugar no mundo. Foi assim que saímos desse lugar e retornamos pra cá. A natureza, mais do que nunca, tem nos chamado atenção pra nossos atos e por muito tempo ela tem nos avisado de forma gentil. Hoje, ela grita e se manifesta de forma drástica. Nos forçando a parar, a nos isolar e a colocar toda nossa existência em perspectiva, nos mostrando nossa fragilidade diante do invisível, nosso egoísmo em coexistir. Se de longe, ela parece indefesa, silenciosa diante das nossas investidas contra ela, de perto, ela mostra sua força e resiliência. Nós iremos, os que virão depois de nós também partirão e ela permanecerá ali, lutando a sua forma e mostrando sua importância. Abrindo nossos olhos pra verdade que somos pequenos diante de tudo que nos cerca e que sem ela, não existimos. Nossa situação atual tem nos mostrado como a natureza é afetada por nossas atitudes e que em nossa ausência, ela renasce. A poluição diminuiu, águas voltaram a ser cristalinas, animais voltaram a aparecer.. se existia alguma dúvida de que precisamos rever nossa posição de superioridade e mudar nossos hábitos, não existe mais. A prova de que somos capazes está aí, basta ouvir o chamado. Falamos tanto que as futuras gerações mudarão o mundo, mas que mundo estamos deixando pra elas hoje? Não existirá um futuro se não preservarmos o presente. Que o medo da incerteza que o futuro trás consigo se transforme em esperança e mudança, pra que nossos filhos aprendam pelo exemplo e não pelos nossos erros.

Essa viagem pra Patagônia nos mudou em tantas formas que eu não consigo inumerar. Nos fez repensar nosso estilo de vida e enxergar ainda mais o quão privilegiados nós somos. Por mais que a gente busque levar uma vida minimalista, no estilo slowlife, a verdade é que vivemos em ritmo acelerado, com acesso a tudo que precisamos, a hora que queremos. Imagine viver em um lugar tão distante, que a comida é escassa porque ela não chega, você precisa esperar por dias pra que os poucos mercados sejam abastecidos. Um lugar tão distante que nem todos os alimentos perecíveis chegam e tão deserto, com clima tão inóspito, que plantar não é uma opção. Imagine viver tão isolado, que a cidade mais próxima fique a mais de 200km de distância e que entre elas, exista apenas uma estrada e mais nada. Planejar todos os seus dias e sua rotina com antecedência, sempre prevendo o que virá pela frente. Ter sua vida regida pelo próprio tempo e ritmo do lugar. Uma realidade tão contrastante da nossa, que muitas vezes nos perguntamos como alguém vive assim. Existe uma diferença entre o romantismo no privilégio do minimalismo quando ele é opcional e a realidade crua de quando ele é uma imposição, a única vida que você conhece. Ainda sim, existe uma beleza incontestável nesse lugar, uma energia que emana dessa natureza selvagem e intocada, que vem da simplicidade e felicidade dessas pessoas e não tem como não sentir. Não tem como não se envolver. Não é à toa que em nossa estadia aqui, encontramos inúmeras pessoas que deixaram tudo pra trás e transformaram esse lugar em um lar. A Patagônia não é para vontades rasas, é lugar para repensar nossos hábitos e urgências. Em tempos de isolamento forçado, em que o mundo nos pede pra parar, só consigo lembrar desse lugar e desse povo, que só parou no tempo porque já estão muito a frente de nós.

Existe uma história aqui na Argentina, de uma mulher que resolveu atravessar a cordilheira dos andes com seu filho recém nascido nos braços, para ir atrás do seu marido que havia sido chamado para a guerra. No meio do caminho seus suprimentos de água e comida acabaram e ela morreu de sede. Seu corpo foi encontrado tempos depois por viajantes e para a surpresa deles, seu bebê recém nascido estava vivo, graças ao leite materno da mãe, que continuou sendo produzido mesmo após a sua morte. Mesmo não sendo reconhecida pela igreja, ela se tornou uma santa para os argentinos e ao longo das cordilheiras e das estradas daqui, são deixadas inúmeras garrafas de água para essa mulher e mãe, tão forte, que nem a morte foi capaz de impedi-la de proteger seu filho. Ao longo da subida pro glaciar huemul meus pensamentos se prenderam na história dela, na sua determinação e coragem em fazer o que achava ser o melhor pra sua família. Pensei em todos os limites que uma mãe supera por seus filhos e meus próprios limites. Na minha jornada como mãe, sempre busquei ouvir meu chamado interior e criar meus filhos a minha maneira. Já fui chamada de louca, irresponsável e de corajosa (no sentido sarcástico da palavra), meu coração sempre falou mais alto e nunca falhou comigo apesar de já ter me abatido. Mas hoje não, hoje eu reconheço a força de ser quem sou. Subi essa montanha com um filho no colo e outro nas mãos, escalamos pedras e juntos chegamos ao topo. Recolhi água do huemul e brindamos essa conquista. No dia internacional da mulher, batizei meus filhos nas águas do glaciar e amamentei aos pés dele. Senti a conexão entre a força da natureza e a força de ser mulher. Dediquei esse momento a Maria Antonia Deolinda Corrêa, que aqui é conhecida como Defunta Corrêa e pedi que protegesse nosso retorno. Nossas histórias podem ser muito diferentes mas temos algo em comum: a força de uma mãe.

Depois de muitos quilômetros percorridos e inúmeras tentativas, temos nossa primeira foto de família em terras chilenas! Nossa viagem mal começou e já estamos vivendo dias incríveis por aqui, a beleza de Torres del Paine é indescritível e nenhuma foto é capaz de traduzir a experiência de ver esse lugar com os próprios olhos, ainda mais na companhia dos nossos filhos. Quando organizamos essa viagem algumas pessoas nos falaram que deveríamos esperar até eles estarem maiores porque não entenderiam e não lembrariam do que estamos vivendo aqui, mas eu discordo. Fizemos uma caminhada até o Lago Grey e a Helena pegou uma pedra no chão e arremessou no lago pra fazer um pedido: que as montanhas sejam sempre lindas e a gente seja sempre feliz. Talvez o Lúcio não lembre de nada do que viu aqui, talvez a Helena também não.. mas no futuro, quando eles olharem pra essas fotos, verão como estávamos felizes vivendo o hoje e isso que importa.

Ultimamente (e mais do que nunca) temos questionado nosso propósito enquanto indivíduos e pais. Como queremos viver nossa vida? Que infância queremos para os nossos filhos? Que lembranças queremos que eles tenham de nós? Estamos fazendo algo para construir essas memórias hoje ou apenas sobrevivendo dia após dia no automático? Se engana quem pensa que as lembranças são feitas só de ocasiões especiais, as lembranças também são feitas dos momentos mais simples, aqueles que se espremem entre a loucura do dia a dia, tão banais que poderiam até passar desapercebido! Mas que carregam um brilho tão intenso, que iluminam nossos pensamentos por muito tempo, mais tempo até do que eles duraram. Um sorriso verdadeiro, um gesto de amor, um beijo no joelho machucado, um simples momento em família. Não seremos lembrados pelos bens materiais dados ou vontades feitas, mas pelo amor e pela presença. Pelos abraços dados e pelas palavras ditas. Eles não vão lembrar das vezes em que a porta se fechou mas irão lembrar de todas as vezes em que ela se abriu. Do reencontro no fim do dia após horas separados que pareceram eternas. Eles não irão se lembrar das lágrimas derramadas mas sim de todas as vezes que elas foram enxugadas. O que é grande hoje, amanhã será pequeno e o que parecia nada, se tornará tudo que existe de mais precioso. Na infância, as emoções são intensas e eternas. Então eles crescem e a maturidade resignifica tudo que um dia não fez sentido. Um dia iremos partir e tudo que deixaremos aos nossos filhos são as nossas lembranças. Até as vezes em que queimamos a comida e precisamos comer fora porque a casa ficou com cheiro ruim ou esquecemos de lavar o uniforme da escola vão fazer nossos filhos rirem e se lembrarem de nós com saudade. Porque eles não irão se lembrar de todas as vezes que erramos, eles nem irão saber de todas as vezes que fomos dormir nos sentindo péssimos pais, mas com certeza eles seguirão sabendo que nunca deixamos de tentar.

Semana retrasada postei nos stories sobre divisão das tarefas domésticas, criação dos filhos e machismo. Vocês me pediram pra falar mais sobre isso e lembrei de algo que eu queria compartilhar! Em agosto do ano passado recebemos camisetas da @lojaminitees pra família toda com a frase “The future is equal”. Era lançamento da campanha de dia dos pais e no minuto que usamos elas pela primeira vez, eu senti o peso que a mensagem trazia. Sendo mãe de menina, sempre tive o feminismo muito presente na educação da Helena. Nunca me vi como mãe de menino, então não havia pensado na outra perspectiva: como criar meninos em uma cultura machista. E nessa minha busca por encontrar uma forma de educar o Lúcio, me deparei com um poço ainda mais fundo: a masculinidade tóxica. Por termos um vínculo bem estabelecido, lobinho é um menino apegado! amoroso e muito carinhoso, chora toda vez que vai pro colo de outra pessoa ou chora pedindo meu consolo quando se assusta ou se machuca. Normal né?! Mas aí começa um coro que eu nunca ouvi até ser mãe de menino: “ow menino, deixa de ser fresco” “menino não chora, tem que ser forte!” E a pior: “é estranho pai dando beijo no filho menino, na menina tudo bem, é normal.. menina a gente fala minha princesa, menino a gente chama de amigão né” Lúcio tem 9 meses e as pessoas já esperam que ele se comporte dentro de um padrão do que é ser homem. Não basta ensinar tarefas domésticas, a desenvolver a carga mental pra que possa dividir num futuro, não basta ensinar a respeitar. É preciso ir mais além e educar com igualdade. Ensinar que meninos e meninas podem ser fortes, assim como podem ser sensíveis, delicados e carinhosos. Que podem (e devem) chorar e demonstrar seus sentimentos sem medo. É preciso abrir espaço pro diálogo dentro das relações, porque nossos companheiros em grande maioria também foram ensinados a não sentir e não verbalizar e isso reflete na criação dos nossos filhos. Pais, beijem seus filhos, sejam carinhosos com eles, ensinem sobre amor, chorem juntos (e lavem a louça juntos também) Emoções não definem gênero, elas definem nossa humanidade.

Hoje fechamos um círculo completo. Foram 9 meses no ventre e 9 meses no mundo. E nesse breve tempo, já viajamos, nadamos no mar, dormimos abraçados no calor de uma fogueira, sentimos o frio de uma geada, trilhamos, escalamos montanhas e lavamos nossas mãos na cachoeira. Wolf já dormiu na areia, no chão, na grama e na rede sob as estrelas, sempre no seu lugar preferido: dentro do meu abraço. Já comeu fruta direto do pé e até tempero da horta. Mamou quando e onde quis. Nos acompanhou em todas as nossas aventuras com um sorriso no rosto, daqueles que vem da alma! E um brilho no olhar de quem ama a vida e não quer desperdiçar nenhum momento, como se já soubesse que eles são preciosos. Muitas vezes nos olharam como se fôssemos loucos porque vivemos uma cultura que lugar de bebê é dentro de casa junto com a mãe, longe do mundo em uma bolha estéril e solitária. Onde ser uma puérpera em todas suas sensíveis e densas camadas, é quase um crime e a sentença é a reclusão. Mas não deixei a comparação, os julgamentos e opiniões conduzirem nossa caminhada. Ela foi simples e puramente instintiva e por isso, leve e carregada de uma certeza sem igual. Construímos nossa conexão através do amor e do apego. Por 18 meses fomos um e dividimos as mesmas emoções. Dizem que a partir de agora, ele vai começar a entender onde eu termino e ele começa, quem eu sou e quem ele está se tornando. E já vejo em alguns momentos seu desejo por conhecer o mundo além dos meus braços, pedindo confiante pra ir pro chão, rumo às próprias descobertas. A medida que ele se descobre, eu me redescubro e assim seguimos, em constante metamorfose, conhecendo o mundo e tendo um ao outro como casa.

Helena é dona de uma independência assustadora. Não diz que está com fome, vai pra cozinha e volta com um lanche feito. Nunca aceitou um porque não ou porque sim. Não acredita em explicações lúdicas e amenas a assuntos adultos e diz “não mente pra mim”. As pessoas ao nosso redor muitas vezes se cansam, porque sempre me comuniquei com ela com o respeito e a honestidade que ela merece. E a sociedade não está acostumada a ver alguém tratando uma criança como ser humano. “Na minha época não era assim!, meus pais não precisavam falar nada, bastava me olhar e eu já sabia” Mas por não termos voz na infância, quantas situações silenciamos e suportamos? Por não conseguir contestar ou dizer não, quantos limites saudáveis não aprendemos a traçar? Queremos filhos cegamente obedientes a nós e que deem pouco trabalho. Afinal, já estamos sobrecarregados demais com nossas vidas pra perder preciosas 2h explicando porque não podem ter aquele doce na fila do mercado ou porque precisam fazer exame de sangue. Moldamos na nossa cabeça como gostaríamos que eles agissem e por não agirem como esperamos, castigamos. Na nossa frustração, deixamos de enxergar o potencial incrível que eles tem, do jeito que são. Não é fácil educar e dialogar com uma criança que não aceita explicações curtas e rasas, que insiste em se jogar mesmo você alertando o perigo. Mas mude o seu olhar e veja a criança curiosa, com pensamento crítico, determinada, confiante que seu filho é! Se ele mostra sua voz, é porque confia em você e espera que você esteja ali por ele.

Como está começando o 2020 de vocês? Por aqui, está sendo de muita leveza, verdade e propósito! 2019 foi um caminho intenso e difícil.Foi o ano que colocamos nossas vidas, carreiras e futuro em perspectiva. Foi o ano das perguntas e o ano da respostas. O ano de deixar ciclos que já haviam terminado e abrir as portas para o novo. Nesse caminho tortuoso, a vida nos emitiu sinais claros de que mais do que nunca, é hora de vivermos plenamente aquilo que acreditamos. Foi um processo de reflexão, auto consciência, aceitação e coragem! Porque é preciso muita coragem para sair da zona de conforto e traçar um novo caminho, para viver a vida que você quer e fazer o que é certo para você, mesmo que pareça loucura para os outros. A vida é linda porque é assim, tormenta e calmaria, altos e baixos.. uma nova página em branco todo dia. Ela é feita pra se arriscar! Tudo é um ganho, é história e aprendizado. 2020 é o ano de se jogar de corpo, alma e coração leve. Vamos com medo, mas com uma vontade muito maior de viver o que sempre sonhamos e queremos para os nossos filhos. De ser exatamente quem somos, na nossa própria jornada rumo ao desconhecido.

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